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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Filha paga R$ 27 mil ao mês para 'congelar' o pai por acreditar em cura de seu mal no futuro.

Filha paga R$ 27 mil ao mês para 'congelar' o pai
Lígia Monteiro, com o pai
Brasil - Uma história inusitada tem tirado o sono da família do engenheiro civil da Força Aérea Brasileira Luiz Felippe Dias de Andrade Monteiro, que morreu em fevereiro, aos 83 anos. Como antecipou a coluna de Ancelmo Gois na quinta-feira, a Justiça, em primeira instância, deu ganho de causa a um desejo do militar que sofria de uma doença crônica e queria ser congelado, em vez de sepultado. Ele acreditava que, no futuro, a ciência poderia encontrar a cura para o seu mal. Como não deixou por escrito a decisão, o caso foi parar nos tribunais. Virou uma briga entre os vivos: não há consenso entre os familiares.

A filha do segundo casamento de Luiz Felippe, Lígia Monteiro, que morava com ele no Rio, conta que estava disposta a fazer valer a última vontade do pai, manifestada antes de ele ter um acidente vascular cerebral. Mas, para isso, ela teria que autorizar o embarque do corpo para os EUA, onde seria congelado por uma empresa especializada em criogenia. Duas meias-irmãs, que moram no Rio Grande do Sul, são contrárias à ideia.

Filhas do 1º casamento querem sepultamento

Segundo o advogado Rodrigo Marinho Crespo, as filhas do primeiro casamento de Luiz Felippe, que querem o sepultamento do pai no jazigo da família na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, tentam impedir o traslado do corpo para a empresa americana desde fevereiro. Na terça, no entanto, a 20ª Câmara Cível bateu o martelo em favor de Lígia. Crespo, no entanto, diz que vai recorrer da decisão. — Eu sinto que são quatro meses de desrespeito. Ele era uma pessoa que prezava os rituais. Em momento algum, nos disse que gostaria de ser congelado. Acredito que uma palhaçada dessa natureza nunca sairia da cabeça dele — disse a professora Carmen Trois, de 51 anos, uma das filhas do primeiro casamento do engenheiro da FAB.

Enquanto o imbróglio não se resolve, o corpo de Luiz Felippe é conservado por uma funerária no Rio em caixão de zinco, resfriado por gelo-seco. Pelo serviço, Lígia tem desembolsado quase R$ 900 por dia, cerca de R$ 27 mil por mês.

Ela explica por que está brigando:

— O que eu tenho a perder? A única certeza que eu tenho é que, caso a ciência evolua, quem está enterrado não será ressuscitado. Mas, e quanto a quem é congelado? Não sabemos. Enquanto minhas irmãs querem um pedaço de mármore, eu quero realizar um sonho do meu pai — afirmou ela, ao contar sua história ao GLOBO.

Custo para manter corpo resfriado é de R$ 900 diários

Segundo Lígia, na tentativa de um acordo com as irmãs, ela falou que abriria mão da herança do pai, caso concordassem com o congelamento do corpo:

— Já gastei todo meu dinheiro. Recursos que usaria para comprar um apartamento e tirei da poupança. Estou devendo à funerária. Cheguei a oferecer duas passagens por ano para que minhas irmãs visitassem o corpo do meu pai nos EUA, mas elas não aceitaram. E ainda entraram com uma ação de danos morais por causa da situação. De qualquer maneira, tudo vale a pena. Quero honrar a vontade do meu pai, que acreditava muito na evolução da ciência. Tudo que tenho devo a ele.

Para o psicanalista Luiz Alberto Py, Lígia está sentindo a obrigação de fazer a vontade do pai.

— Se ele fez esse pedido, a filha acreditou e se sente na obrigação de cumprir a promessa. Mas pode existir, sim, uma fantasia de imortalidade — observou o psicanalista.

Técnica é tema de filmes e de lendas urbanas

Lendas urbanas, ficção científica e fantasias: o congelamento de cadáveres é um tema que envolve mistério e poucas informações. Nos Estados Unidos, em 1966, Walt Disney foi submetido a uma cirurgia por conta de um câncer. Depois de sua morte, rumores, que persistem até hoje, davam conta de que seu corpo teria sido congelado para ser ressuscitado quando a ciência descobrisse a cura de sua doença. Em 1979, surgiu na TV uma versão do herói Buck Rogers. Na história, Rogers comandava uma nave quando sofreu um acidente e acabou preso no espaço. Na ficção, seu corpo foi mantido intacto por cinco séculos devido a uma técnica de conservação criogênica. Ele é descongelado no ano de 2491, e vive para ser um herói terrestre.

Em outro filme, Vanilla Sky, o personagem interpretado por Tom Cruise é congelado, após sofrer um acidente e ter o rosto desfigurado. Ele acreditava que a ciência seria capaz de devolver sua aparência de antes.

Fonte: O Globo

O que é criogenia humana?

É a técnica de manter cadáveres congelados anos a fio para ressuscitá-los um dia. Hoje, isso já dá certo com embriões: óvulos fecundados podem ficar na "geladeira" com chances boas de sobreviver a um descongelamento - estima-se que perto de 60% deles conseguem vingar, dando origem a um bebê. Por isso, um bocado de gente acredita que isso ainda vai funcionar com seres humanos inteiros. Até agora, cerca de 100 pessoas já foram congeladas depois da morte e esperam por vida nova no futuro.
A idéia é fantástica: você morre e os médicos o colocam num tanque de nitrogênio líquido, guardado a -196 ºC, temperatura em que o cadáver não apodrece. Aí, daqui a uns 500 anos, os cientistas descobrem um jeito de combater a doença que causou sua morte e o degelam. Uma beleza, né? Mas o processo não é tão simples. "Os próprios métodos usados para congelar uma pessoa causam danos às células que só poderiam ser reparados por tecnologias que ainda não existem", afirma o físico americano Robert Ettinger, considerado o grande divulgador da criogenia. Por enquanto, o congelamento não funciona com pessoas porque o líquido que compõe as células vira gelo, aumentando de tamanho e fazendo-as trincar. Com os embriões congelados, esse efeito é evitado com a aplicação de substâncias químicas que driblam a formação de cristais de gelo, impedindo que as paredes celulares se danifiquem. "Mas com os seres humanos desenvolvidos o problema é que cada tipo de célula exige uma substância protetora diferente, e muitas delas ainda não foram inventadas", diz o ginecologista Ricardo Baruffi, da Maternidade Sinhá Junqueira, em Ribeirão Preto (SP), um especialista em congelamento de embriões. Quer tentar a sorte mesmo assim? Então é melhor se mudar para os Estados Unidos, porque as duas únicas empresas no mundo com estrutura para receber novos "pacientes" ficam lá. E, se você quiser levar um bichinho de estimação para não se sentir muito sozinho daqui a 500 anos, sem problemas. Dez gatos, sete cachorros e até um papagaio já entraram nessa fria com seus donos.
A um passo da eternidade Congelar um corpo é fácil. O que os cientistas não sabem ainda é como ressuscitá-lo 1. Assim que uma pessoa morre, um funcionário da empresa de criogenia resfria o cadáver com gelo. Nessa fase, a temperatura do corpo fica pouco acima de 0 ºC. Não é muito frio, mas é o suficiente para evitar, por algum tempo, a proliferação das bactérias que iriam apodrecer o cadáver
2. Nessa fase, o corpo também recebe uma injeção de substâncias anticoagulantes, para manter os vasos sanguíneos desobstruídos. Depois, todo o sangue é bombeado para fora e no lugar entram substâncias químicas que protegerão as células na hora do congelamento, evitando a formação de parte dos cristais de gelo, que rompem a estrutura celular
3. No local em que o corpo vai ser congelado, o cadáver passa por um resfriamento gradual, em uma câmara de gelo seco. Para evitar danos às células, a intenção é que todos os tecidos se congelem no mesmo ritmo. Todo o processo ocorre de maneira lenta e pode durar dois dias, quando a temperatura do corpo chega a -79 ºC
4. Depois do resfriamento, o corpo é submergido lentamente em um tanque de nitrogênio líquido, até ser totalmente coberto. Quando essa fase termina, após uma semana, o cadáver está a -196 ºC, impedido de apodrecer. Ele fica no tanque por toda a eternidade — ou até que alguém invente uma tecnologia para ressuscitá-lo
Imortalidade salgada Por enquanto, virar picolé sai caro
Custo da criogenia*
Empresa Alcor (Estados Unidos)
Corpo inteiro: R$ 352 mil
Só a cabeça**: R$ 146 mil
Crynics Institute (Estados Unidos)
Corpo inteiro: R$ 82 mil
Animal de estimação: R$ 17 mil
* Valores das duas únicas empresas no mundo que aplicam a técnica
** Para concervar o cérebro e, no futuro, religá-lo a outro corpo
Walt Disney congelado? Os rumores foram fortes nos anos 60, mas não passam de lenda urbana Não, o corpo do criador do Mickey não está congelado. Tudo indica que os boatos de que o cadáver de Walt Disney virou um picolé criogênico não passam de lenda urbana. A versão oficial é que o desenhista e empresário foi cremado logo após sua morte, em 1966. Mas, na época, o funeral reservado e o fato de a criogenia estar na ordem do dia, com o sucesso do livro A Prospect of Immortality ("Uma Perspectiva de Imortalidade", inédito no Brasil), de Robert Ettinger, alimentaram a especulação. Outro fato impulsionou a lenda: a primeira experiência criogênica humana ocorreu apenas um mês após a morte de Disney, quando o cadáver do norte-americano James Bedford foi congelado.

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